quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Uma aventura de merda no avião!

Tudo se passa a bordo do avião de uma famosa empresa aérea no Brasil. Antes da hora H: Entrando e dando logo uma checada nas comissárias gostosas… se derem mole eu dou cantada mesmo, meu sonho de consumo é comer uma delicinha dessas… apesar que tem umas que são feias de doer as vistas, acho que é para variar, afinal tem gosto pra tudo na vida! Começo a procurar o assento, monte de gente sem noção no corredor, bando de desocupados bloqueando a passagem, sai cambada de tranca-rua! Ninguém conhece ninguém, cara de cu ao quadrado. Um comissário magrinho me fala: O senhor pode colocar as bagagens de mão nos compartimentos acima dos assentos! Bagagem de mão é o meu caralho! Meu mochilão vai onde eu quiser, foda-se! O tal compartimento para bagagem já tá lotado, dou um soco pro lado e um murro pro outro, vou empurrando as outras merdas de bagagens e tranqueiras para abrir espaço para a minha mochila "desoriginal" da Wilson que comprei no camelô. Vou me ajeitando no assento, lugarzinho apertado dos infernos... aquela fumacinha branca saindo no teto (Será que é calmante em forma de nebulização? Ou estão anunciando o novo papa?), barulhos esquisitos, sons de turbina, passa uma comissária com um sorriso mais falso que abraço de sogra, com uma cestinha oferecendo aquelas balas moles de chocolate, eu meti as duas mãos e enchi no meio das pernas, ela ficou visivelmente sem graça e falou que não tinha problema, daí eu falei: não tem não é? Então me dá mais!! E peguei mais um monte e joguei tudo no meio das pernas. Tenho que ter alguma compensação para pagar uma passagem tão cara, nem que seja em balas. A hora H: Senhores passageiros, meu nome é Caceta… sou a chefe de cabine (grandes merda!)…blá, blá, blá... Procedimentos de segurança... desligar a porra do celular… voltar a bosta do encosto para a posição vertical (Pra que porra? Já tava quase na vertical mesmo… essa merda não inclina direito e só tem duas posições que eu conheço: meio vertical e vertical pra caralho!). Meu joelho já ralando na traseira do encosto da frente, por acaso essa porra de avião é feita pra anão? – Continuam a falar sobre os tais procedimentos: Em caso de pouso na água...use o assento como flutuação… Ah tá! Sei… me engana que eu gosto! Vão jogar essa jamanta desse avião no mar e todo mundo vai virar surfista do nada! Depois falam toda a ladainha num ingrêis horrível… esse povo por acaso estudou com o Joel Santana? A voz de uma bicha enrustida é ouvida no intercom: Tripulação portas em automático! Se tá em automático, pra quê correr e mexer nas merdas das travas das portas? Ah tá, para colocar no automático, evitar que alguém fique surtado e tente abrir na marra! De novo a bicha enrustida fala: Tripulação, decolagem autorizada!(Aloka). É dada a largada… fudeu! O bicho sai doido na pista… Vai levantar vôo.... a vontade de bater um barro aparece do nada! Silêncio geral. Todo mundo segurando o peido! Minhas mãos grudadas nos apoios de braço do assento. É agora meu Jezuisinho! O coração batucando... vai sair pela boca esse maldito! Faço o sinal da cruz, do meu lado um gordo escroto fica despistando olhando pra cima, disfarça não sua banha, você tá quase se cagando também que eu sei. “Segura na mão de Deus…” sempre me lembro dessa cantoria da igreja nessas horas… A fé aparece nas horas mais terríveis na vida de um homem, principalmente no momento da mais pura frouxidão. O avião começa a trepidar todo, parece uma mula brava correndo e dando coice. Êita porra! E lá vamos nós! O bicho já tá todo empinado pra cima que nem pipa… Tô quase arrancando o encosto do banco com as costas... tem um viado no banco de trás me cutucando com o joelho… ahh féladaputa… Meu coração... caralho, tá a mil… enfarto começa assim mesmo? Um barulho estranho no avião… Brom, brom, brom... Essa bicha desse comandante sabe o que tá fazendo mesmo? Olho pela janela, caralho! O avião já tá no ar... lá fora a cidade vai encolhendo… Todo mundo com o furico travado, não passa uma agulha. Barulho parecendo mudando de marcha: Prumpt, trumpt, vrumpt... Eu ouço uma torcida imaginária gritando: Vai... vai... vai... Vaaai féladaputa! E foi! Escapei por enquanto! Com o coração na mão, meu furico meu Deus... quase caguei… juro! Tomanocu! Devagar, já calmo e tranquilo (a mais pura mentira!) olho pelo interior do avião. Percebo um monte de gente com o cu travado, sabe aquela cara amarela de quem foi que peidou. O suor desce pelo meu rosto… tento disfarçar lendo a tal revista de bordo… quem é o editor dessa porcaria? Só pode ser uma bicha velha… quanta merda cabe nessa revista de avião? Só fala da vida de gente famosa (Fodam-se ao quadrado!), lugares caros para viajar (jamais irei, jamais! Não é questão de honra, é falta de dinheiro mesmo) e receitas de culinária com igredientes que só deve ter em Jupter (Páprica picante doce?? Fala a minha língua porra!). O motorista/piloto aprumou o bichão no ar… eita! Tombou pro lado e virou o focinho pro destino… agora é só esperar para não ter turbulência… mas sempre tem essa tremedeira dos infernos no caminho… Respiro fundo. Chego assobiar pelas narinas… Então a chefona da tripulação fala: Está autorizado o uso de laptops, celulares somente no modo avião (Ué! Não era para desligar essa porcaria? Povo doido da cabeça! Essa muié tá zuretinha!) O sinal de travar o cinto já desligou… não sei pra quê o sinal do cigarrinho… quem é o doido de fumar dentro nessa joça? Agora é aguardar o lanchinho e a cervejinha que é oferecida aos passageiros! Observo a tripulação de bordo mais de perto (Comissário é tudo viado… tenho certeza!) Finalmente vem a carrocinha com o tal lanchinho… sempre é o biscoitinho do mais barato e vagabundo com gosto meio amargo (Não é amargo porque é chique não, é porque tá meio velho e estragado mesmo), amendoim??? (Eu virei elefante por um acaso pra comer essa merda de amendoin, oh caralho? Ou tá me chamando de brocha?), refrigerante quente com gelo feito de água da bica… mas eu só peço cerveja! Uma que tem o nome esquisito da moléstia, eu só falo: “Vai ni kem”! Peço outra cerveja e a dona fala para aguardar, se sobrar tem mais… Ô miséria da peste! Negar cervejinha para um pobre ser vivente é até pecado, eu acho! A bosta do gordo do meu lado pediu suco de laranja, na hora de colocar na mesinha, se atrapalhou todo e caiu tudo no meu colo! Ele me pediu desculpas, mas eu falei pra ele: agora parece que eu estou todo mijado seu filho duma égua! De repente, começa a apitar o sinal no teto de apertar o cinto… Tem aviso que vai ter turbulência… lascou! Olha o meu furico que nem um maluco de novo! E o bichão começa a tremer que nem mal de Parkinson… sossega diabo! O gordão do meu lado segurou minha mão! Sai fora boiola sebosa! O diacho do avião sacode tanto, que eu acho que tudo que estava no meu estômago virou milk shake! Dei até um arroto choco! Passou! Ufa… é… não deu… peidei fedido e olho para o gordo com cara feia… melhor culpar esse idiota mesmo… ele tapou o nariz e começou a correr lágrimas nos olhos dele... eu viro a cara pra janela e disfarço uma risadinha malígna (Ele se fudeu!!! Hahahaha). Minhas pernas já estão latejando nesse aperto todo, acho que vou ter uma gangrena… minha coluna tá doendo pra cacete… peço licença para o gordo pois quero ir no banheiro para dar um mijão, quando saio quase esfrego o meu pau na cara da baleia gorda (Toma seu fresco mama aqui no papai! Hahaha) Ele me olhou rindo e apontando para o meu assento e para a minha bunda... Caralho! Esqueci as balas de chocolate debaixo das pernas e foi tudo parar na bunda e com o calor derreteram, virou uma meleca escura e agora parece que estou todo cagado! Saio correndo para o banheiro com todo mundo me olhando, eu até ouvi umas gargalhadas de uns capetas! Chego no banheiro do avião que é um lugarzinho apertado da porra… Se eu pego uma comissária dessas aqui dentro eu faço miséria! A bicha enrustida de novo fala: Tripulação preparar para pouso! Mas já?? Vai começar tudo de novo! Deus é mais! Deu nem tempo de limpar a meleca das balas na bunda! Volto correndo para o assento, quase pulo o gordo, jogo a revista na meleca do assento e me sento. Olho pela janelinha, vou checando a altura… até sentir o “trem de pouso” (foi um mineiro que inventou essa porra?) dar uma esculachada no chão da pista… O avião sai quicando e cantando pneu. Eu grito: Comprou a carteira seu comandante féladaputa? Vou te entregar para o Detran, hahaha! Em seguida vai diminuindo a velocidade e encostando! Chegamos! graças à Nossa Senhora da Aterrisagem ninguém fez merda! Falando nisso, estou me sentindo em trabalho de parto, tô segurando para chegar logo no banheiro do aeroporto! E eu vou demorar lá… e muito! Que merda de viagem!

Diário de um Zumbi - Por Maxcyber

Como é mesmo? Ah sim... só um momento, estou tentando me lembrar... queria falar um pouco mais sobre mim, mas é um pouco... como se diz... complicado... deixa pra lá, agora me deu um branco total! Os pensamentos vão chegando aos poucos, se aglomeram, mas logo viram fumaça, mas tem uma dúvida que não me sai da cabeça: como terá sido o meu passado? Será mesmo que tive um? Acho que sim! Na verdade, eu mal me lembro do que fiz ontem! Está tudo diferente agora. Estava agora pouco tentando lembrar do meu próprio nome e nem isso eu consigo... só veio na minha vaga memória algo parecido com um apelido (Fred talvez?), não me recordo direito, afinal do que consistem as lembranças? Não sei se é porque o meu cérebro está em processo de putrefação ou o que mais seria... Ah sim... ia me esquecendo de mencionar, eu sou um zumbi! Isso mesmo... zumbi! Não! Não é tão ruim quanto lhe parece. É uma situação diferente, mas não é tão difícil de se lidar como imaginam por aí e por um simples motivo: eu já estou morto! Isso mesmo... morto! Se já tive uma vida passada, cheia de todas as preocupações humanas, bom, isso ficou para trás e é algo que não me lembro, nem que eu tente. Agora tudo é muito resumido, não sinto dor, nem tenho sentimentos muito complicados, apenas vago em meio a muitos outros na mesma condição que a minha e o que procuramos é tão somente: abrigo e alimento! Nós nos arrastamos literalmente por aí à noite, andando em grupos, não porque gostamos da companhia um do outro, nada disso, apenas seguimos em conjunto por uma necessidade maior, uma vontade coletiva e durante o dia ficamos escondidos em vários lugares: grutas próximas das cidades, cemitérios, galpões ou prédios abandonados, qualquer local deserto e escuro... bom estes são os nossos abrigos. Quanto ao alimento... cérebro, cérebro... rs, estou brincando, desculpa, não pude evitar! Na verdade, nós nos contentamos com poucos humanos por vez para alimentar todo o nosso grupo, não sabemos quantos somos, pois já perdemos a capacidade de contar, alguns de nós nem tem dedos para fazer isso. Não comemos carne podre, nada de carniça nos túmulos! Não, de jeito nenhum! Eca, que nojo! Tem que ser carne fresca, não sei explicar direito, mas é como se sentíssemos uma grande falta da vida passada e tentássemos extraí-la de um humano vivo, sentimos algo parecido com a dor, mas só que não dói! Na verdade dói mais para quem está sendo devorado... desculpa pelo meu humor negro! Eu sei, se não dá para entender, imagina para eu te explicar... Nem tão pouco temos forças para caçar um humano, não é por cansaço, é apenas uma fraqueza muito grande que nos aflige, mas seria algo muito engraçado, desastroso, inútil e muito difícil para qualquer um de nós correr atrás e segurar um humano, não é por falta de pernas e braços, apesar de alguns de nós já não possuí-los também. Nosso plano é simples: chegamos de forma silenciosa e cautelosa perto de um humano, surpreendemos, encurralamos e simplesmente caímos todos de uma vez sobre ele, mordendo, grunhindo e rosnando desesperadamente, quem ainda possui dentes vai primeiro por uma questão estratégica. Os humanos acham que não raciocinamos direito, mas estão enganados, não somos estúpidos! Podemos até ser lerdos de movimentos, mas de cabeça somos apenas esquecidos. Após abatermos nossas “presas”, ficamos ali nos saciando à vontade e muitas dessas vítimas, alguns mais destroçados, outros menos, se tornam zumbis assim como nós, num círculo vicioso, uma coisa meio mórbida, dá até calafrios. Bem, prosseguindo... sobre o que eu ia falar agora? Ah sim... o que fazemos em nossos nossos abrigos, bom, nós ficamos de roda... não! não é brincando de cirandinha, se bem que seria algo hilário de acontecer, mas não é isso... a gente fica lá, grunhindo, rosnando, se sacudindo nuns espasmos esquisitos, nossos músculos e tendões ficam se contraindo e relaxando descontroladamente... ainda não entendi direito porque isso acontece... é, eu sei que é um tédio, muito frustrante tem hora, mas o que mais podemos fazer?. Nós nos comunicamos de uma forma bastante peculiar, com todos esses grunhidos e alguns gestos a gente se faz entender, tem hora que dá uma vontade enorme de nos comunicarmos direito, mas não nos lembramos como fazíamos na vida passada e de vez em quando escapa uma palavra curta, mas só quem ainda tem pulmões e língua consegue fazer essa façanha, até comemoramos quando isso acontece, do nosso jeito: grunhindo! Mas até isso é difícil porque a maioria de nós já perdeu os pulmões ou a língua, se me recordo bem, a minha língua caiu a duas semanas atrás, eu acho! Não ligo mais para a minha aparência, não preciso mais ver o meu reflexo num espelho por exemplo, mas eu sei que alguns dentes ainda estão por aqui na minha boca, pelo menos os da frente, porque eu ainda posso morder forte! Falando na minha boca, a impressão que dá é que estou sempre sorrindo, o tempo todo, é que eu perdi os meus lábios a pouco tempo, quando um outro zumbi tentou retirar à força um pedaço de carne humana da minha boca, acabou arrancando os meus lábios junto! Mas eu já superei isso, juro! Sei que ele não fez de propósito! A fome dele é só um instinto violento, porque nem estômago mais ele tem, coitado! Eu procuro não pensar no futuro, nem mesmo no amanhã, até porque me tornei zumbi recentemente... Não! Eu não me lembro quando e como aconteceu! Estou me baseando na minha condição física, meu estado de apodrecimento ainda está no começo, tem outros de nós muito mais antigos, alguns são somente esqueletos com alguns nacos de carne nos ossos e fios de cabelo na cabeça. Envelhecer não é mais uma opção, vamos simplesmente nos desmanchando aos poucos, mas parece que não vai acabar nunca! Se alimentar na nossa condição de zumbi, ironicamente, é vital para quem já está morto, não porque vai morrer de novo, não! Isso não é mais possível! É que quando algum de nós não se alimenta por algum tempo, sente uma agonia, uma aflição muito grande e vai ficando cada vez mais lento, até que simplesmente cai no chão, não mais se mexe e fica lá totalmente parado como deveria ser para um cadáver “normal’. Todos os dias, faça chuva ou faça lua, por volta da meia noite, quando os humanos estão em sua maioria já dormindo, é a hora que avançamos e gostamos de pegá-los de surpresa, porque fica mais difícil uma reação quando vários de nós cai todos de uma vez sobre a vítima e essa tem que ainda acordar para ver o que está acontecendo, mas aí já é tarde demais.. nham, nham. Os mendigos, desabrigados e andarilhos são nossos pratos prediletos, porque estão sempre embriagos demais para se darem conta do que está acontecendo e quem não gosta de uma carne marinada com álcool? Hum? rs, é brincadeira. Mas nem sempre tudo dá certo na nossa busca por alimento, já tivemos várias baixas nos nossos grupos e isso eu lamento profundamente! Temos que estar sempre isolados, distantes da civilização como ainda é conhecida, somos agora a escória do mundo, apenas monstros, mas isso não é de todo verdade... por isso, sentimos uma solidão angustiante. Mas sempre está chegando mais zumbis, em número cada vez maior, algo assustador! Não sei se é uma epidemia mundial ou quê? Dá até arrepios só de pensar... Dias atrás nós fomos para um acampamento aqui perto, não me lembro direito, não sei se era de alguma igreja ou de jovens se drogando, mas quem se importa? Durante essa investida, enquanto vários de nós caía sobre os humanos dormindo, no meio de toda a euforia, de humanos fugindo, consegui atacar uma mulher caída perto de mim e aconteceu algo muito estranho, que nunca tinha me ocorrido antes: os gritos dela me pertubaram muito enquanto eu estava mordendo seu pescoço, então ela parou de se mexer, de respirar, eu olhei para os olhos dela e vi uma expressão de alívio naquele rosto, como se a vida estivesse se esvaindo daquele corpo, fiquei muito triste na hora, não sei o que deu em mim... deixei ela lá faltando um pedaço de carne no pescoço e depois, mesmo com muita fome, segui os outros, me arrastando de volta ao nosso abrigo. Coincidentemente, outro dia, ainda estava escuro, bem antes do sol nascer, essa mesma mulher chegou aqui no nosso abrigo, estamos num aterro sanitário, ela estava acompanhando um outro grupo de zumbis, ela veio se arrastando de uma forma diferente, não sei porque fiquei observando os trejeitos daquele quadril, ela chegou, me olhou nos olhos como se nada tivesse acontecido! Confesso que fiquei boquiaberto e sem jeito! Senti algo muito estranho, meio de culpa ou sei lá o quê, então me aproximei dela, ela não me reconheceu, não mesmo! Fiquei do lado dela durante horas, eu nem mesmo estava grunhindo, apesar de querer muito fazer isso, fiquei em silêncio... fiquei olhando para o cabelo dela sob a luz da lua, para seus olhos já sem vida, o pescoço faltando um pedaço. De repente, eu peguei na mão dela e ela pareceu gostar porque tentou apertar a minha mão também. E de todas as variantes do universo, nesse mundo fantástico e de coisas extraordinárias, misteriosas.. eu acho que ficamos apaixonados. Não ria, por favor! Será que foi o destino e por isso parei de morder o pescoço dela quando a ataquei? Sei lá... a vida passada já era complicada, agora então, gosto nem de pensar. Mas enfim, estamos nesse lance complexo, muita coisa me intriga, tem hora que eu gostaria de perguntar o nome dela e dizer a ela o meu... não dizemos e não é por timidez! É que não lembramos de nada.. Mas está tudo bem! Não precisamos de nomes, apenas nos gostamos e isso basta! Nos contentamos em ficar nos abrigos um do lado do outro e estamos sempre juntos, nas nossas rodas de grupo, grunhindo e sacudindo o corpo e ela sacode o corpo dela de uma forma muito bonita por sinal, pelo menos é o que eu acho, mas sou suspeito para falar isso. Quando buscamos alimento eu sempre deixo o cérebro para ela, porque é a melhor parte de um humano para se comer, sei lá, quando comemos cérebro parece uma droga que dá energia para nossa mente, nos sentimos iluminados instantaneamente e por alguns segundos sentimos a vida novamente, mas de uma forma rápida, volta tudo a ser somente uma profusão de idéias difusas e misturadas. É complicado ser zumbi tem horas! Mas eu gosto mesmo é de estar ao lado dela, não importa onde ou por quanto tempo. Ela ainda é uma zumbi muito nova, tem muito pela frente, sua pele ainda está somente esbranquiçada, enquanto a minha já está quase azul. Temos algo parecido com o amor, um namoro surreal, apenas ficamos perto um do outro, nos tocando, nada nos pertuba, nada... Agora pouco, eu fui acompanhá-la para subir num barranco e caí de costas, quebrei a perna e nem me importei. Me pareceu que ela achou muito engraçado, ela grunhiu alto e me ajudou a levantar. Fiquei mais lento com a perna quebrada, mas está tudo bem, com ela ao meu lado não ligo pra nada, ela cuida de mim. Meu pênis caiu hoje pela manhã e ela guardou no bolso da saia, achei aquilo uma grande demonstração de carinho e ela percebeu que eu estava sorrindo e não é devido a minha falta de lábios. Estou começando a gostar de ser zumbi de verdade... é sério!

O Dia em que a Terra parou...

Sábado, 7 horas da manhã, marretadas no apartamento de cima (maldita reforma...), acordei com uma tremenda ressaca, a noitada anterior foi violenta, cheguei às 4 da madruga.Puta dor nas costas, minha esposa Rosicleide me fez dormir no sofá, isso depois de falar um monte na minha cara, levei até uns tapas, mas deixa isso prá lá. Vou para o quarto tentar uma reconciliação com a minha patroa, mas ela ja tinha se mandado para o trampo, trabalha como operadora de caixa de supermercado, ultimamente ela anda muito estressada. Vou para o banheiro, dou uma mijada de quase 2 minutos, de dar inveja a um cavalo. Escovo os dentes, me olho no espelho, estou meio pálido, jogo água na cara e volto pra sala. Pego o jornal que tinha trazido do trabalho no dia anterior, vou conferir o resultado da mega sena acumulada da última quarta-feira. Retiro o bilhete de aposta da carteira, todo amassado. Dou uma olhada nas manchetes, CPI do cacete, médicos cubanos, assaltos, etc. Minha atenção se volta para o resultado do concurso 1525 que diz que há somente um ganhador, apostador do RJ, pensei brincando: “Quem sabe não é desta vez que deixo de ser motorista de coletivo...” jogo as mesmas dezenas a dez anos, já sei os números de cabeça. Primeira dezena... confere, segunda... confere... terceira, quarta, quinta e sexta dezenas... conferem... Puta que pariu! Ganhei na mega sena... sinto um aperto no coração, o chão se abrindo nos meus pés, falta de ar... vou para a janela tentando respirar e não acreditando no que estava acontecendo. Será que ainda estava dormindo e sonhando? Lá embaixo na pracinha de frente ao prédio, alguns aposentados jogando dominó, crianças brincando, senhoras puxando carrinhos voltando da feira, na banca de jornais aquele simpático velhinho de boina branca que todos os dias me cumprimenta com um cordial bom dia, agora estava me encarando e de repente começou a sacudir o saco com a mão e a acenar pra mim freneticamente e eu pude ler perfeitamente em seus lábios que diziam pausadamente a seguinte palavra: L-A-R-G-O... Despistei olhando para o prédio de frente, aquela minha vizinha gostosona que nunca olhava para mim e que sempre fechava a janela na minha cara, agora estava com a janela escancarada e nua, de quatro em cima da cama, arreganhando a bunda pra mim, de repente ela pulou da cama e segurou um cartaz que dizia: “Oi lindo, por 10 mil, te dou até o ouvido esquerdo, beijos...” Tento disfarçar, me afasto da janela... meio tonto com tudo aquilo acontecendo... Ligo o rádio, transamérica FM, locutor dando a dica de alguns bailes, mandando um salve para algumas comunidades, de repente ele fala: “E o nosso muito bom dia, para o mais ilustre morador de Madureira, bom dia Sr. Armando Vasconcelos da Silva...”, desligo o rádio assustado, meu Deus o que está acontecendo? Vou para o banheiro, suando em bicas, melhor tomar um banho. Água fria, pensamento a mil... de repente alguém bate na porta, minha cunhadinha gostosa, Rosilene, que mora com a gente já a 2 anos e meio e não fala comigo a dois anos, desde aquela vez que joguei um xaveco furado. Ela fala com voz manhosa: “Armandinho meu amor, se o sabonete cair é só chamar que eu tô aqui pra pegar pra você, se é que você me entende...” Fiquei estarrecido, pernas bambas... só consegui falar: “Valeu!”. Saio do banho e vou para o quarto, visto uma bermuda, camiseta regata (sinto a minha barriga maior que antes), volto pra sala, o telefone toca, é o Sr. Antônio dono da padaria da esquina, já vou logo falando que minha dívida de cinco meses vai ter que esperar mais um pouquinho, ele fala: “Não é nada disto Sr. Armando (estranho ele não me chamar de “Seu safado”), ele continua, eu estou ligando para te desejar um bom dia e pra falar que aquela minha filha que é balconista aqui da padaria e o que o Senhor vivia cantando e chamando de gostosa, está indo aí no seu apartamento levar um cesta completa de café da manhã e o seu jornal... Caramba, tem cinco meses que eu passo pela rua de trás para não passar em frente à padaria, fugindo deste maldito. Deixo o telefone cair no gancho, foi o tempo de tocar de novo, era o gerente do banco (Em pleno sábado ??), perdoando as dívidas, me falou que estava liquidando os últimos 12 anos de prestações do apartamento se eu comparecesse na agência para abertura de uma conta especial... falei obrigado e desliguei num impulso. Minha sogra (megera desgraçada, ficou viúva e veio de mala e cuia morar com a gente) entra na sala com uma bandeja, o jogo de chá que ela ganhou no casamento dela a mais de 50 anos, entrou falando: “Meu filho querido, venha tomar um café da manhã caprichado, você precisa recompor as energias depois da noitada de ontem...” fiquei desconcertado... A campanhia toca, entra o porteiro, vascaíno doente, com a camisa do Flamengo e cantando: “uma vez Flamengo, sempre Flamengo...”, ele fala: Bom dia Armandão, vim trazer suas correspondências pessoalmente, as cartas de cobrança eu deixei com minha irmã, é que ela é secretária executiva e está desempregada, assim ela está negociando suas dívidas e já está se familiarizando com a sua documentação... Com a porta ainda aberta, entra um cara que eu nunca vi na minha vida, chegou falando: “Fala tio, quanto tempo!”, eu perguntei: “Quem é você?”, ele respondeu: “Sou o teu sobrinho neto Dilsinho, lá de Minas, vim morar uns tempos com vocês... a propósito, o tio Totinha manda lembranças lá de Mato Grosso do Sul e pediu se o Senhor pode dar uma força pra família dele, a coisa lá tá feia...”, daí eu falei indignado: “Eu nunca te vi na vida e nem sabia que tinha um tio Totinha (??) no Mato Grosso do Sul”. Resolvi sair de casa, tinha urgência de chegar na rua, bati a porta da sala com força, não estava mais acreditando no que estava acontecendo, parecia aquele programa Além da Realidade, já no corredor, na porta do elevador tinha dois sujeitos de terno, um deles falou: “Bom dia Sr. Armando, queira por gentileza entrar no elevador”, eu perguntei desconfiado: “Quem são vocês afinal de contas?”, o outro que pareceu ser o mais velho me respondeu: “Nós somos agentes da Receita Federal e estamos aqui para proteger nosso futuro investimento”. Eu falei que não sabia o que eles estavam falando e disse que ia descer pelas escadas, estava precisando fazer um pouco de exercício físico. Antes de chegar na portaria, eu dei uma espiada se não tinha alguém me vigiando na saída. Tinha um grupo de umas 50 pessoas, todos os meus colegas de trabalho, vizinhos, gente que eu nunca vi mais gorda... vestindo camisetas com minha foto estampada, segurando faixas, parecia a saida da casa do Big Brother... Continuei descendo as escadas até chegar na garagem, tinha que fugir daquilo tudo. Quase dei um troço, meu chevette 86 não estava na vaga... eis que a porta da garagem se abre e eu vejo minha esposa Rosicleide entrando com um Audi S8 novinho e berrando: “Olha benhêêê!!!”... aí eu perdi os sentidos e cai desmaiado...